Pinto e Sequeira chegaram ao local do assalto com dificuldade. Dezenas de residentes nas redondezas tinham-se aproximado demais da farmácia de serviço que acabara de ser vítima de assalto, não deixando espaço para o trabalho policial.
Os dois inspectores ouviam, à medida que iam avançando na direcção do néon verde, vozes acaloradas. Possíveis clientes, que se indignavam por lhes estar vedado o acesso aos medicamentos de que necessitavam: "... e agora vou para Alverca procurar uma farmácia para comprar leite para o miúdo?? Isto é uma vergonha!", vociferava um pai desesperado e com défice de horas de sono.
Quando conseguiram chegar à porta, deixando para trás os exasperados, encontraram-na fechada. A farmacêutica, no interior, estava sentada no banco reservado a quem mede a tensão. Olhando para um ponto indistinto na parede em frente.
Pinto deu dois pequenos toques na porta de vidro com o nó do dedo indicador direito, produzindo um som que a despertou, e a senhora levantou-se, foi buscar as chaves e abriu-lhes a porta.
Quando Pinto, Sequeira e os dois agentes que vieram tomar conta da ocorrência entraram, a forta fechou-se novamente e as vozes do exterior pareceram abafadas e distantes.
- Boa noite, nós somos os inspectores da Polícia Judiciária Pinto e Sequeira.
- Teresa Silva. Os senhores desculpem perguntar... mas é normal vir a Judiciária quando há uma situação destas? - respondeu a senhora, enquanto observava os quatro homens que a rodeavam.
- Não... - responderam os dois em uníssono. - Andamos atrás de umas pessoas e suspeitámos que tivessem tomado parte neste assalto. Por isso, enquanto os nossos agentes vão registando o que aconteceu, nós ficamos por aqui a ouvir, pode ser?
-... Claro, claro. Por acaso esta situação é a primeira vez que me acontece. Nunca tinha sido assaltada, esta zona é muito sossegada.
Sequeira olha por cima do ombro, para ver que os homens de azul não se deram ao trabalho de começar a tirar apontamentos. "Mas que porra...", pensou, enquanto lhes fez um sinal discreto para que puxassem dos seus cadernos.
- Pois, há sempre uma primeira vez para tudo... E diga-me: as pessoas que a assaltaram eram como?
- Não, foi só uma mulher.
- Só uma mulher? De que idade, mais ou menos?
- ... Entre os 45 e os 50, acho eu. Não sou lá muito boa nessas coisas...
- Não faz mal. E cabelos? Cor dos olhos?
- Castanhos, grisalhos. Também castanhos, mas não tenho a certeza porque foi tudo muito de repente.
Sequeira perguntou, então: "E ela fez exactamente o quê?"
Quando saíram da farmácia, os dois inspectores sabiam o mesmo e haviam chegado à mesma conclusão: estava a acontecer alguma coisa naquele momento, e o seu ex-colega Humberto Sousa e a nora Vanda estavam a caminho de um momento decisivo. Daqueles em que se desgraça o resto da vida.
- Como é que vamos saber para onde é que eles estão a ir, Pinto? Se o Sousa e a tipa não foram para um hospital nem para casa dela ou dele, no estado em que ele está, é porque os dois já sabem onde é que está o assassino dos crimes no rio.
- Epá, se não temos a sorte grande vamos tentar a aproximação. Tens aí nos apontamentos a morada daquele amigo do Sousa, o dono do barco em que eles vinham para Vila Franca de Xira quando encontrámos o primeiro corpo?
- O... Saúl? - respondeu Sequeira, enquanto se posicionava debaixo do candeeiro de rua para ler melhor o nome no bloco de notas castanho-escuro.
- Sim, esse mesmo.
- Tenho.
- Vamos lá.
sábado, 23 de maio de 2009
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