sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A mão

"Uma mão decepada!"

Estático, ainda com as calças sujas e o tubo na mão direita, vi o barqueiro baixar-se novamente para pousar a mão que acabara de me mostrar. Reerguendo-se novamente, levou os binóculos à face de novo, certamente para ver a reacção que me tinha causado.
Fiquei ainda uns dois segundos sem saber bem como reagir.

Deveria comunicar com ele por gestos, ou pelo menos parecer menos idiota do que estava a parecer?
Com o tubo, apontei para o lodo, onde estava o pé e o sapato quase submergidos pela subida da maré e pela chuva nebulosa daquela bizarra manhã.

O barqueiro de panamá abanou a cabeça afirmativamente.
"Ele sabe que está aqui um corpo!"
O barqueiro de panamá apontou para si mesmo, indicador afirmativamente apontado para o peito.
"Ele matou esta pessoa!"

Calmamente, o barqueiro sentou-se, mergulhou a extremidade de dois remos na água e deu meia volta na direcção da Ponte Marechal Carmona remando pela cinza água do Tejo, enquanto um arrepio gélido me estremeceu.

"E agora?"

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