"Eles já descobriram o corpo!", pensei, em pé e praguejando impropérios enquanto o barco se aproximava do centro das nossas atenções.
- "Ó Humberto, mas tu já sabias disto?", perguntou Saul, já suspeitando que teríamos algo a ver com o aparato que formigava no cais.
- "Sim, Saul. Hoje de manhã passei aqui e...". Uma mão emergiu da água e agarrou-se ao barco, balançando-nos. Numa reacção instintiva, ambos dobrámos os joelhos para reencontrarmos o equilíbrio, enquanto víamos a cabeça e o ombro do mergulhador aparecer por entre a água suja do Tejo.
Sem tirar o bocal de respiração, fez-nos sinal para nos aproximarmos da margem, onde os curiosos e profissionais dividiam atenções entre as manobras de recuperação do cadáver de onde escorria ainda água e lodo e a nossa "convocatória".
Quando conseguimos saltar da embarcação para o cais, os dois homens de aspecto duro e judiciário que antes observavam com cara de caso a ascensão do cadáver agarraram nos braços de cada um de nós, suave mas firmemente.
- "Os senhores por favor cheguem aqui."
- "Eu vou se eu quiser! Mas quem é você!?" respondeu, abrupto e natural, Saul, enquanto com um puxão libertou o braço da pressão.
- "Oiça, não vamos fazer uma cena. Somos da Judiciária, e só vos queremos fazer umas perguntas...", respondeu o que me acompanhava, enquanto nos mostrava a identificação.
- "Ah, bom! Ó Humberto, estes..."
- "Sim, Saul, pára lá com fitas e vamos lá saber o que é que estes cavalheiros querem connosco.", cortei rapidamente. Eles ainda não precisavam se saber que eu era inspector-chefe reformado, e é sempre interessante ver como nos vão encarar até que eu o comunique...
Antes de entrarmos nas instalações do Restaurante Gaivota, aparentemente transformado num temporário posto de controlo de operações cheio de bombeiros barrigudos encostados ao balcão e apoiados nas cervejas e nas histórias de aventuras em mar e fogo, ainda pensei:
"Será que eles nos querem interrogar por podermos ser testemunhas, ou... por estarmos de barco?"
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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