sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Garagem I

Na garagem da vivenda insuspeita, ouve-se o som metálico de aço sendo afiado. A faca raspa uma e outra vez na pedra de amolar, preguiçosa mas inevitável.

O silêncio que ocupa os momentos que se seguem não é de calmaria. O homem anda de roda, coçando o queixo de barba desfeita, faca na outra mão, sem saber bem qual o melhor destino para aquele momento.



"Cortar, serrar, esmagar, morder... Tantas e tantas opções!", pensava, rindo. É verdade o que se diz dos momentos definitivos na vida: o que verdadeiramente importa é aproveitar a escalada, pois o prazer de estar no topo do propósito não supera - definitivamente, não supera - o labor da ascensão.


Certamente, M. aproveitaria muito bem o momento. O homem firmemente amarrado à cadeira, com cola tapando a boca sangrada, chorava com uma expressão entre o patético e o comovente.

Para o homem de faca afiada, cada lágrima da sua vítima emociona.

Mas o frémito toma conta da mão armada, e a opção por serrar concretiza-se, crua e excruciante.

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