domingo, 15 de fevereiro de 2009

Barco III

A tarde fugia depressa, enquanto as palavras trocadas entre nós os quatro (eu, Saul e os inspectores Pinto e Sequeira) eram analisadas minuciosamente por cada um. Olhando para a porta do Gaivota e para o lusco-fusco que deixava entrar, o meu amigo pescador perguntou:

-"Humberto, como é que voltamos para Alhandra? Vamos ancorar aqui o Avieirinho e regressar a pé pela linha do comboio, visto que não trouxe dinheiro nenhum comigo?"

Os inspectores atalharam caminho: não nos aconselhavam a deixar ali o barquito, pois aquele local teria de ser dragado para tentarem encontrar mais provas (com sorte, as partes em falta no cadáver...).

- "Vá, companheiros, se não se importam vamos seguindo então viagem, ok?", resumi, confiante de que sabia mais do que os restantes interessados neste enigma.

Saímos do restaurante, trocando conversas de circunstância sobre o frio, este Inverno surpreendentemente rigoroso e a sede das pessoas por casos sinistros como este ("A Manuela e o Moniz já têm história para uma semana e tal de telejornal-shows", gracejou Sequeira).

O cadáver já se encontrava na viatura, pelo que subimos a bordo enquanto os polícias e mergulhadores - surpresos por sermos liberados - pediam a Pinto e Sequeira desenvolvimentos.

Os locais viam-nos, das janelas das casas encostadas à linha.

Os curiosos viam-nos, do jardim e do amontoado humano que se formou para lá da linha vermelha e branca que delimitou o lugar do achado.

Enquanto arrancávamos para Sul e Saul me entregava sem palavras a acompanhar a carta anónima que tinha encontrado no chão da embarcação, o assassino via-nos.

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