terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Em casa

Em casa, na sala, sentado com os braços sobre a mesa, tentei pensar sobre que informações tinha e o que podia fazer com elas.

- O sapato era do tipo mocassin. Não é um modelo de sapato que se use no Inverno, pois é arejado e não protege devidamente da chuva nem do frio... a não ser que sejamos jovens. Os adolescentes têm uma espécie de triunfo do racional sobre o físico, pois vejo miúdas de saia curta com 8º e rapazes de t-shirt em manhãs de enregelar, tudo em nome da aparência e da pertença aos seus grupos;

- O pé que ocupava o sapato, de tamanho 38 a 40, parecia magro, mas também é verdade que, estando de cabeça para baixo, o sangue deixaria inevitavelmente de ocupar os vasos sanguíneos do membro inferior...;

- Se o barqueiro me mostrou a mão, nada me garante que o pedaço de corpo que encontrei seja integralmente o restante do assassinado... Pode muito bem ser apenas a perna, ou a metade inferior do cadáver;

- Depois de se ter revelado, o barqueiro remou para a nascente do Tejo;

"Bom, então posso concluir que a vítima será uma pessoa do sexo masculino, entre os 15 e os 30 anos, eventualmente residente a Norte de Vila Franca (faz-me sentido que, se o barqueiro largou o corpo mais acima, este talvez tenha descido o rio até se fixar no lodo na baixa da maré). Deixa lá ver se..."

Levantei-me de rompante e fui até ao saco dos jornais, donde retirei o jornal "Mirante" (um semanário regional distribuído gratuitamente com o Expresso na nossa região). Folheei-o uma e outra vez, com atenção às notícias mais pequenas, mas o jornal não dá conta de nenhum desaparecimento.

"Porra!", murmurei, enquanto agarrei no telefone e teclei o número do Saul.

"Estou, Saul? Tás bom, rapaz? Olha lá, queres ir dar uma voltinha de barco?..."

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