Com a pressa de encontrar o seu destino, Sousa nem se lembrou de pedir a chave do armazém do filho à nora. Em frente ao portão, o crepúsculo iluminava ténue o labor de subtil arrombamento da fechadura.
O ex-inspector ainda sabia uns truques, e deu-lhe jeito no passado conseguir entrar onde tal não lhe era permitido... Mais uma vez o intento foi conseguido, e lá entrou no espaço amplo de armazenamento de cereais.
Sacas de diversas rações, para uma diversidade de animais, encontravam-se arrumadas de forma ordenada. No chão, os sapatos estalavam ao som de pequenas sementes que sempre escapavam dos recipientes para se espraiarem no piso de cimento cinza.
Humberto Sousa caminhou a passos largos para o canto que se assemelhava a um escritório, abriu a porta e procurou com os olhos por pastas de facturas.
Encontrou-as.
Sentou-se na cadeira de napa gasta, abriu o dossier verde cuja lombada dizia "Clientes/Recibos/2008", e começou a vasculhar. Interessavam-lhe entregas que a empresa tivesse efectuado em endereços entre Vila Franca de Xira e Porto Alto, eventualmente para moradias localizadas nas fronteiras dos terrenos da Companhia das Lezírias.
"Tem de estar aqui a casa do Marques... Tem de estar!", pensava Sousa, ansioso por saber para onde ir. Não sabia o que esse doido poderia ter-se lembrado de fazer ao Mário... E não conseguia parar de pensar nas vidas que estavam ligadas ao filho. Uma mulher, uma filha no início da idade adulta.
Repentinamente, o corpo queixou-se ao seu dono. Uma pontada no peito, quase cruzando todo o tórax até às costas, obrigou Humberto Sousa a levar a mão à camisa e a agarrá-la com força. Doía-lhe imenso, e sentia o chão a fugir... "Não posso parar, não posso parar!..."
Quando os elementos da PSP entraram no armazém, alertados por um vizinho que tinha presenciado o arrombamento e dado o alarme, não se tinham passado mais de dois minutos desde que o enfarte havia empurrado para o estado de inconsciência o velho detective.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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